terça-feira, 11 de setembro de 2012

A viagem do tomate III

A viagem do tomate III
As tapas

Continuo sem perceber porque é que em Portugal insistem em chamar tapas aos nossos deliciosos petiscos, pitéus e afins. Quer o petisco quer a tapa, são pequenas porções de comida. E ambos variam consoante a região. Tudo bem até aqui. Mas são tão diferentes.

 O Tapeo
A elegância do "tapeo", a estética do ritual, reside numa espécie de demonstração de indiferença para com a mesa e a cadeira, e até à própria comida que, ainda que delicada e saborosa, come-se de pé e em proporções mínimas.
No "tapeo" dá-se prioridade ao discurso e ao gesto.
O "tapeo" requer pausa e tempo para se praticar com elegância espanhola a arte de comer em  pé .
 El Tapeo
La elegancia del  "tapeo", la estetica del rito, reside en una especie de demonstración de indiferencia hacia la mesa y la silla, y hacia la propria comida que, aunque delicada y sabrosa, se toma de pie y en proporciones mínimas.
Se da prioridad en el "tapeo" al discurso y al gesto.
El "tapeo" requiere de pausa y tiempo para praticar con española elegancia el arte de comer de pie.
 Autor castelhano desconhecido. Tenho esta nota há muitos anos, escrita nas capas de um livro.

Tapear é sobretudo socializar. A comida propriamente dita , vem em segundo plano. É com o pretexto da tapa que convivem, de pé ao balcão, numa mesa sem toalha sentados , no meio da sala de um café.
Quando estão juntos, no tapeo, é normal andarem de restaurante em restaurante, sempre à conversa, a provar as especialidades de cada um. À tapa junta-se sempre a copa, uma bebida. Em certas zonas de Espanha, nomeadamente a Andaluzia, quando se pede uma bebida oferecem-nos a tapa. E essa tapa que nos é oferecida, pode ser escolhida por nós através de uma carta,  ou é a  própria casa que decide a tapa a servir. Ou seja,  à medida que se vai bebendo mais copas, servem-nos uma tapa sempre diferente.
Tapear  não é o mesmo que petiscar.
Em Espanha como tapas e em Portugal petiscos.

Gosto muito de pedir ensaladilla russa e callos. 
A enasalilla russa, é talvez a mais frequente de todas as tapas. Aparentemente parece ser toda igual apesar de ser um prato simples de fazer. Mas não . Há casas que fazem a sua própria maionese. E o atum por vezes é de excelente qualidade , pança ( ventresca). Reparem. Se comerem uma ensalilla russa e essa não  prestar, não se dêem ao trabalho de ficar para comer mais nada.
E os callos, um prato de tripa guisada com ou sem grão, deliciosos. Se no molho destes encontrarem hortelã?! Não se levantem e fiquem para almoçar ou jantar porque naquele sitio cozinha-se bem.
São estas pequenas coisas que já nem penso! São instintivas.

Mas falar de boas tapas é sinonimo de uma boa barra. Na barra podemos encontrar a variedade de pratos existentes que podem ser servidos em tapas, 1/2 ração e ração. Da dose mais pequena para a maior de todas.
Foi em  Sanlúcar de Barrameda, na Casa Balbino, que encontrei uma excelente barra. O outro local sugerido pelo Jorge Guitián.
Na Casa Balbino as tapas pagam-se, por isso decidi juntar a este post o Bar Carrera, em Antequera,  onde as tapas são oferecidas, com a bebida. Assim ilustra melhor a minha ideia de "tapa".
Nota : Antequera. Outro local em Andaluzia onde podem ver o Arco dos GigantesEl Torcal.


Na Casa Balbino em  Sanlúcar de Barrameda, pedi uma tapa de ensaladilla russa, uma tapa de  ovas de choco e outra de gambas de Sanlúcar. Mais, um copo de vinho branco e uma imperial. Paguei 18€.


Um das duas cartas e os tradicionais Jamones


A minha escolha para tapeo: Ovas de choco, ensadilla russa e gambas de Sanlucar


A barra. Várias selecções de tapas


A barra


A barra
Da esquerda para a direita gambas e os famosos lagostinos de Sanlucar
Um local completamente diferente do atrás descrito é o Bar Carrera em Antequera. Um restaurante que não tem turistas e é frequentado pelas pessoas da terra. Aqui pude escolher as minhas tapas e foram oferecidas com a bebida. Tapas: 1pescado en su salsa ( não me recordo o nome do peixe); 1 conejo al ajillo; 1 montadito de atum; 2 montaditos de cochinillo; 1 sangre con tomates. Éramos duas pessoas e cada um bebeu 5 copos de vinho. Pagamos ao todo 10€. E ainda conhecemos um casal muito simpático que nos ofereceu outra rodada (anotei mais uns sítios para tapear).É impossível passar desapercebido quando se fotografa constantemente o que comemos. Foi uma noite muito divertida! Saí do local à 00:30  e o bar ainda ficou cheio de gente em animada conversa ou jaleo ( barulho alegre em tom de festa ). Neste local a cozinha está aberta até à meia noite, deles. Um detalhe agradável: quando pedíamos mais uma copa de vinho branco mudavam sempre os copos. Excelente serviço.
Não é de admirar que este restaurante esteja sempre cheio. Boa comida e preços acessíveis.
Em cima da esquerda para a direita : Coelho e o peixe.
Em baixo pela mesma ordem: Cochinillo (leitão) e o sangue em tomates

O Bar Carrera também é famoso pelas Las Alpargatas, fatias de pão com um grande sortido de acompanhamentos. Esta que vos mostro foi servida a outras pessoas, e era de Jamon Serrano e queijo Cabrales (um queijo azul)
La Alpargata de Jamon serrano  e queijo Cabrales
No final uma pequena atenção em forma de  chupito de licor de caramelo e mini  gelados
  É moda servirem e encontrei muitos sítios com este regalo

Jaleo 00:30

Percorri a costa desde Sanlucar de Barrameda até Málaga e depois dirigi-me para o interior. El Chorro e Antequera.

Tive oportunidade de comer pratos dos Chefes mais conceituados daquela zona, descobri novos produtos e provei muita comida que só lhe conhecia o nome e não o sabor.
Pela costa descobri o borriquete num chiringuito (restaurante de praia). O Borriquete é um peixe tímido, pois a sua cabeça é pequena em relação ao corpo, mas descarado no sabor.  É pescado e muito consumido, na costa andaluza.


Borriquete



Continua...

Olhapim,
Alentejo...

P.S. A tapa  faz parte da cultura espanhola e o petisco da portuguesa. 

  
A viagem do tomate I
A viegem do tomate II 

*A viagem do tomate III
A viagem do tomate IV 

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